O percurso da mulher na História e na família

05/05/2015

 

O percurso da mulher na História e na família

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Lendo o livro, A Teoria de Tudo, tão bem escrito, com uma sensibilidade única de Jane Hawking, esposa do Stephen Hawking, relatando os 25 anos de casamento deles, quero destacar o relato dela sobre suas angústias diante da perspectiva de ser só mãe para seus 3 filhos em contraponto ao desejo também de ser amada, escritora e pesquisadora.

Esse relato se passou na década de 60; as questões como culpa, desejos, projetos de vida, e sexualidade até hojeestão presentes na vida moderna das mulheres divididas entre trabalho, sonhos pessoais e filhos.

Quem disse que as mulheres só querem ser mães? E não sendo só mães, que mais elas podem querer?! E elas se permitem querer mais?!

Essas questões nos acompanham na clínica atual e nos faz refletir a importância do espaço analítico, propiciando a essas mulheres em conflitos, a busca de um caminho de autonomia e realizações.

Nos textos sagrados, a família é considerada um grupo da qual o pai é o chefe. O seu poderio lhe dava o direito de julgar e punir, as mulheres nem apareciam como desejantes e importantes.

Apenas a partir XVIII e XIX, se constrói uma feminilidade, ainda que pelo olhar dos homens, com ideias de filósofos, médicos e cientista sobre a verdadeira \" natureza \" da mulher e o lugar determinados a elas pela ordem natural, que é a maternidade.

Essas ideias, se construíram devido às baixas dos soldados nas guerras e também a alta mortalidade de bebês alimentados por amas. Com a necessidade de preparar a nação para um bom exército, se viu a necessidade de dar mais atenção e cuidados aos bebês nascidos daquele período em diante.

A maternidade passou a ser um ponto central de satisfação na vida das mulheres. Com a maternidade, as mulheres descobriram seu poder e autoridade. Elas passaram a ser fundamentais para a preparação de uma nova geração com mais recursos em termos de saúde, e intelectualidade. As mães passaram a ser responsáveis não só pela integridade física das crianças, mas também pela sua educação.

Com a chegada da revolução industrial, as mulheres tornaram-se mais capazes de exercerem seus direitos, e expressar seus desejos. Surgem, os romances, ideias de felicidades e igualdade.

O conceito de felicidade feminina, a partir do séc. XVIII é totalmente voltado a dedicação à manutenção da família. Os filhos são suas únicas ambições. Daí podemos pensar que se as mulheres só produzem filhos, elas então só se produzem mães!

Com o advento da Pílula anticoncepcional, a mulher cria espaço de reflexões sobre ela mesma e suas possibilidades de se realizar, que não exclusivamente na maternidade.

E desde então, ela vem conquistando seus espaços e direitos. Atravessando a história, recolhendo através de gerações, suas tradições e valores. Sempre numa tentativa de não deixar para trás aquilo que nos fez sentido, e que faz parte do nosso imaginário feminino, como a maternidade, matrimônio, mas também, com coragem de ousar outras formas de de ser mãe, amadas, ampliando essa condição para um diálogo, com aquilo que é próprio do indivíduo, com aquilo que é possível, adequado para esse momento, que não serve para todas, mas na particularidade de cada uma dessas mulheres, e essa é a revolução interna da mulher, que aparece algumas vezes, nos discursos de nossas pacientes, com sofrimento, angústias, conflitos e dores. Porém, como dizia Mão Tsé-Tung:

"A revolução não é o convite para um jantar, a composição de uma obra literária, a pintura de um quadro ou a confecção de um bordado, ela não pode ser assim tão refinada, calma e delicada, tão branda, tão afável e cortês, comedida e generosa. A revolução é uma insurreição, é um ato de violência pelo qual uma classe derruba a outra."

Então, vamos à luta! E que nesse processo, possamos ser mais que mulheres livres, possamos ser pessoas melhores!!

Katty R. Buscaglione

Psicóloga e

Analista em Formação pelo GEP de Campinas

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data de publicação: 05/05/2015