Poeira de Estrela

25/03/2014

 

Poeira de Estrela

Quer imprimir ou arquivar? Clique aqui

Quando recebi o convite para escrever algo para esta página, no Psicanálise e Cotidiano, logo comecei a imaginar as possibilidades sobre o que escrever. Escrever psicanaliticamente sem usar a psicanálise. Pensei, pensei, e nada veio.

No dia seguinte me lembrei e decidi reler os textos já escritos por outros anteriormente, para me habituar com a ideia mas logo esqueci, e por um tempo deixei a ideia de lado e só voltei a pensar sobre isso quando me deitei na cama pra dormir.

Pensava, pensava e os pensamentos correndo para encaixes teóricos, até que fui interrompido por um ser diferente batendo à minha porta entreaberta. Era Boris, meu pug. Logo forçou a porta e veio entrando no quarto, como faz todos os dias para dormir. Ele sentou e eu sentei na cama, olhei pra ele e disse: “e aí, Boris!”. Ele “roncou” pra mim.

Assim me lembrei de uma reportagem que vi sobre neurocientistas comprovando uma comunicação entre cachorros e humanos. Demonstravam através de um aparelho as atividades cerebrais que acordavam de diferentes modos a partir de mudanças emocionais e outros estímulos do humano próximo. Quando vi a reportagem pensei: claro, mas como?

De volta à minha cama (que fica de frente a uma janela), olhava pra baixo e via Boris com seus olhos brilhantes olhando pra mim, quando olhei pra cima vi as estrelas, também olhando. Daí veio uma nova ideia. Uma ideia a partir do “como?”.

Como nos comunicamos? Como mantemos contato? Uns com os outros? Um com tudo? Tudo com um? Ou todos e tudo?

Na verdade a ideia que estou a mostrar se mostrou pra mim, mesmo como somente a ideia.

Para que possamos responder o como ou o porquê das coisas, muitas vezes precisamos voltar ao início e criticar, duvidar, questionar. Talvez até mesmo a questão de todos os tempos: de onde viemos? De onde isso veio? Como veio?

Temos por muito tempo aceitado a teoria do “Big Bang”, posteriormente talvez alguém a questione.

Mas, partindo dessa ideia, todos estaríamos conectados de alguma forma, seríamos diferentes frutos de uma mesma árvore, ou melhor, seríamos células de “um” universo. Imagino até que sentimos isso.

Quando coloco isso em questão, coloco não só os humanos ou os cachorros, mas sim tudo.

Enquanto pensava sobre essas questões em minha cama, lembrei de quando tinha entre 5 e 6 anos, numa tarde que fui à praia com minha família, e me lembro de brincar na areia, de afundar meus dedos e sentir uma sensação diferente de tudo, tanto quanto a sensação “revigorante” de um banho de mar. Por que isso?

E a ideia foi prosseguindo com seus caminhos audaciosos. Por exemplo, todo o relacionamento que mantemos com a tal natureza “inorgânica”, o próprio sol que necessitamos para existir, que por muitas culturas por muito tempo foi idolatrado, ou simplesmente uma bela vista de uma paisagem que nos emociona. Ou até menos ainda, o eterno poder das pedras e metais preciosos que move a ganância dos homens. E por fim lembro-me da água, que quando achada fora da Terra é sinônimo da possibilidade da vida.

Para mim, essa é a ligação, ou contato que mantemos com o mundo, outros integrantes do universo. Afinal, somos nada mais que “poeira de estrelas”.

Dando por fim esse pensamento, dormi, com o brilho do olhar de Boris, o brilho das estrelas e a interminável conclusão de uma ideia.

“Somos, de alguma maneira, tudo o que já fomos.”

Danilo Gama Goulart

Graduando em Psicologia

Coordenador do Cinema e Psicanálise do NPA

[email protected]

data de publicação: 25/03/2014