Eleição marcada pela incapacidade de perceber o outro.

18/11/2014

 

Eleição marcada pela incapacidade de perceber o outro.

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O Segundo turno da eleição para o cargo de Presidente do Brasil ocorreu no domingo, dia 26, com a vitória apertada da candidata Dilma Rousseff (PT). A presidente a reeleição venceu, com 51,64% dos votos, o candidato Aécio Neves (PSDB) que obteve 48,36% do total dos votos. Porém a pequenez e estreiteza dessa eleição 2014 no Brasil estiveram presentes nas atitudes das pessoas, dos eleitores filiados aos partidos ou não, ao defenderem seus candidatos.

A campanha eleitoral assemelhou-se a uma longa partida de futebol com barulhentas e raivosas torcidas “organizadas”, daquelas que agridem, matam e morrem pelo seu time, por ter certeza que seu time é o bom e o adversário é o mal e precisa ser destruído. Os eleitores agiam como torcedores fanáticos na maioria das vezes não concebendo nenhuma ou qualquer escolha que não fosse a sua, a ponto de romper relações de amizade, cometer violência na tentativa de provar que seu candidato é o bom e o outro o é o mau.

Uma forma de torcer, defender seus candidatos tendo como aspecto principal a intolerância e com ela o individualismo, falta de respeito... Aspectos vividos diariamente de maneira sutil nas pequenas situações, como compartilhar espaço no transporte coletivo - terrestre e aéreo-, no estacionamento de carro, no trânsito... Uma eleição com campanhas eleitorais que escancararam a dificuldade das pessoas se relacionarem uma com as outras, demonstrando um funcionamento no mínimo primário dessa sociedade. As pessoas, componentes principais que formam o social, parecem pelas as atitudes, apresentar dificuldade em distinguir o “eu” do “não eu”, tamanha é a incapacidade do ego, estrutura psíquica, de analisar a realidade. Agem como bebê que tem o seu ego em desenvolvimento e não distinguem os estímulos que surgem do mundo externo dos que surgem dos seus desejos, do mundo interno. Como bebês os eleitores não enxergam o outro e acreditam que sua escolha é única e legítima, a outra/ o outro não existe.

Os candidatos, pessoas pertencentes a mesma sociedade, desenvolvem relação com o outro tão primária quanto seus eleitores, talvez difere nas intenções, é verdade. Eles assumem relações objetais em níveis dos estágios iniciais da vida, predominando atitude egocêntrica, onde o interesse pelo eleitor ocorre pela necessidade do voto que este pode proporcionar. E em busca de maior quantidade de votos não mede esforços para suprir seus desejos, eles, juntamente com as lideranças partidárias, utilizavam espaços, como comício e debates, para propagarem estigma através de insinuações e agressões verbais, pouco se preocupando em discutir a realidade do país, objetivo principal desses espaços.

Essa maneira primária ganha as ruas, os encontros virtuais através das redes sociais, assim como nos encontros “reais” “cara a cara”, assumiram dimensões enormes. Embalados pela emoção do momento e pelas pessoas a serviço dos partidos políticos, os eleitores seguiam propagando estigmas como verdades, conceituando partes da realidade como todo. Basta pensar que o argumento principal nas discussões restringiu-se em: “Ela governa para o pobre” e “Ele governa para elite”. E o brasileiro tão diverso ficou restrito em rico e pobre, com candidatos que se eleito governaria não para todo e qualquer brasileiro, mas governaria para rico ou para o pobre.

Nesse tom, o discurso seguiu cada vez mais fragmentado e superficial, os candidatos fingiam discutir a realidade do país dividindo em ricos e pobres, intelectuais e “burros”; as pessoas acreditavam nessa dicotomia da realidade/vidas reduzidas em duas dimensões e assim reproduziam.

E daqui há alguns anos a lembrança maior da campanha eleitoral das eleições 2014 no Brasil será: “Mulher que vota nele, gosta de apanhar;” “Quem vota nela é nordestino e recebe bolsa família;” “Os eleitores dele são do sudeste não recebe bolsa família” “Eu odeio pobre;” “Eu odeio elite;” O PT criou o bolsa família;” “O PSDB criou o bolsa família”.

Uma eleição marcada pela incapacidade de perceber a diversidade de um povo, de um país, do outro.

Ana Joaquina Freire

Graduanda de Psicologia - UNIT,

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data de publicação: 18/11/2014