A difícil arte de viver

13/05/2014

A difícil arte de viver

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“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.” Clarice Lispector

O primeiro suspiro, o broto que emerge da terra, o sangue que há em todo nascimento. Nascer e crescer são momentos que pedem uma certa perda e dor para a mudança. Nascer do útero pede contrações, suor, ansiedade e sangue. A bolsa se rompe e uma vida começa. O conforto da placenta e o alimento do cordão umbilical dão lugar a um novo modelo de ser: respirar em outro meio – no ar –, alimentar-se pela boca e ter que separar e absorver o que é possível e expelir o que não serve.

A vida já não é fácil desde o começo. Pede uma grande mudança pela qual todos nós, para estarmos vivos hoje, tivemos que passar. Mas essa desconstrução, reconstrução e expansão são contínuas durante toda a vida. Somos eternamente mutantes. A vida é um baile que valsamos continuamente ora sozinhos, ora acompanhados. Cada um do seu jeito. No seu ritmo. Quando os fluxos contínuos do mundo nos levam por determinados caminhos, eu danço com você e você comigo. Depois volto a dançar sozinha. Nossas escolhas nos ajudam como lemes em nossa vida/barco, mas o caminho não é traçado por nós. O fluxo das marés é soberano. Minha vela oscila aos beijos dos ventos.

Adoecemos quando não somos mais capazes de suportar o sentir. O amor e a dor são caminhos para o amadurecimento e o crescimento. Seria bom se não sofrêssemos, mas como crescer sem as dores e perdas? Como poder repensar o mundo e a si mesmo se a realidade não se impõe? A vida foi feita para transformar pedras brutas em diamantes. O tempo é seu principal empregado, mas a possibilidade de ser e sentir pensando depende da gente.

Amar só se aprende amando. Sonhos e fantasias são o açúcar que adoçam o café que nos mantém acordados, mas a nossa professora irrefutável é a necessidade. Eu amo porque, na essência do meu ser, o vazio que se abriga em mim pede a ilusão de empatia para me ajudar a suportá-lo. O poeta ama os livros e seus escritos e isto o completa. A bailarina e o músico amam a dança, o som, a vibração. O sentir pelo toquedo corpo e da alma. Expressões pessoais, suas combinações e relações interpessoais acalentam esse desamparo fundamental e essencial ao ser humano. E, quando isso acontece, a alma transcende e se eleva. Crescer e amadurecer é criar recursos às ondas e marés da vida. É criar ilhas provisórias de conforto e segurança para voltar a mergulhar no bravio mar das incertezas e tormentas.

Toda perda traz a certeza de que a vida continua. A forma como será conduzida depende de quem navega. O crescimento ocorrerá se o navegante souber entender que os ventos mudaram e é hora de girar o leme em outra direção. Essa possibilidade de refletir sobre as vivências e seguir navegando numa época em que não há bússolas é a certeza de que estamos arranhando a maturidade. Talvez, mais pra frente, a maré mude novamente e vocêvenha a reencontrar esses mares antes navegados, mas, talvez, os ventos queiram levá-lo(a) para novos desafios ainda desconhecidos, que exigirão de você novas adaptações, novos amores, novas vidas. Você está preparado(a)?

Petruska Passos Menezes

Psicóloga CRP19/636,

Psicanalista em Formação pelo NPA/SPRPE

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data de publicação: 13/05/2014