Covid-19. O estranho invade nossa alma.

06/07/2020

 

Em função da Covid-19, o isolamento social chega impondo mudanças radicais em nossos hábitos, rotinas, relações interpessoais, sociais e profissionais.

Além das dificuldades de adaptação enfrentadas em função das medidas de isolamento, assistimos, perplexos e impotentes, ao número vertiginoso de mortes em decorrência dessa doença tão letal e devastadora, cujas causas são absolutamente desconhecidas.

Esse cenário trágico nos fragiliza  enquanto seres humanos e pode nos remeter a sentimentos e emoções muito arcaicas, de uma época permeada por angústias e ansiedades impostas por uma realidade externa, nova e desconhecida.

Como bebês aflitos diante do novo e desconhecido, é possível utilizarmos recursos “mágicos” de enfrentamento que nos levem a um distanciamento da realidade através de estados de negação e onipotência, potencialmente nocivos e adoecedores.

O sofrimento é inerente ao ser humano. Desde o início e em muitas fases posteriores da vida,  passamos inevitavelmente por momentos cruciais que geram grande sofrimento.

O que se apresenta com a Covid-19 não é diferente.

Por outro lado, é possível buscar ou desenvolver recursos internos que nos levem à níveis de elaboração e ressignificação desse sofrimento, transformando-o em processos criativos de adaptação à realidade.

O isolamento é um momento propício para o recolhimento, de se voltar para nosso universo interno, particular, único, que só à nós se apresenta e só nós podemos elaborar, desenvolver e transformar.

É chegada a hora de buscarmos verdadeiramente o que nos importa, o que nos move, o que queremos agora e daqui para frente.

Uma oportunidade para regar nossas plantas, nossos afetos, nossa alma. Descobrir aquilo que é nosso, tomar posse, cuidar e desenvolver e, aquilo que não é nosso, deixar que tome o seu destino, sem culpa ou dor.

Quando nos damos conta daquilo que sentimos e somos, aceitamos e lidamos melhor com a nossa realidade interna. Isso reflete na nossa relação com o outro, através de sentimentos positivos, que ocasionam sensações de alívio e esperança.

Na prática, esse processo nos tornam mais criativos, solidários, amorosos e reparadores.

Já dizia Mariza Monte em seus versos que, nesse universo particular, podemos nos sentir pequenos, mas também é possível tornarmos  gigantes. Ou adaptáveis às vicissitudes que a vida nos impõe.

 

Autora: Christiane Cavalcanti de Mello

Psicóloga CRP: 19/003799

Analista Judiciária- Área Apoio Especializado-Psicologia - TRE-SE

Aluna do IX Curso de Psicoterapia Psicanalítica – NPA

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Coordenação: Danilo Goulart