O segredo mitológico das sogras

09/06/2015

 

O Segredo Mitológico das Sogras

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Sabemos que Freud era deveras curioso, estudava e lia tudo que encontrava. No campo das artes, interessava-se pela literatura, poesia, escritos antigos e Mitologia, onde retirou inspiração para analisar alguns fenômenos humanos como Édipo, Narciso, e assim por diante. Pois bem, deixemos de lado este ponto para retomarmos mais tarde, freudianamente.

Alguns dias atrás ganhei uma estatueta (não, não foi minha sogra quem me deu), réplica de uma estátua maior e mais famosa com certeza. Pergunto qual seria o nome da obra que estimulava em algum ponto a minha curiosidade. O Rapto de Proserpina, responde. E lá fui eu pesquisar a respeito da agora minha estatueta-presente.

A obra original é de Gian Lorenzo Bernini (1598 – 1680), considerado por muitos especialistas um dos maiores artistas do século XVII. Grande parte de seu trabalho está em Roma, assim como o Rapto, na GalleriaBorghese.

Reza a lendada mitologia greco-romana que Proserpina era uma linda mulher, corpo delineado como as curvas da brisa do mar, cabelos encaracolados e loiros reluzentes pelo sol que se confundia com o movimento do balé da plantação de trigo onde costumava passear e cantarolar. Bochechas sempre rosadas e olhos expressivos, brilhantes, jovens prontos para se apaixonar.

Plutão, deus do submundo, certa vez resolveu passar férias por essas bandas e, sem planejar, chegou à plantação de trigo onde a Proserpina passeava e ficou observando-a, cheio de admiração. Resultado? Apaixonou-se perdidamente pela jovem e parece que foi correspondido. Sabendo que nenhuma família daquela época aprovaria o romance resolveram fugir lá pro inferno. Deméter, deusa da colheita e mãe da Proserpina ficou furiosa e castigou a Terra devastando as plantações deixando nós, meros mortais, entregues à fome e à escuridão. A falta de amor também tem a capacidade de fazer isso com a gente. Plutão, que tinha o coração mole dos apaixonados, resolveu fazer um trato: se a Proserpina ficasse sem se alimentar durante sua estadia lá embaixo com ele, poderia voltar sem maiores problemas. Trato feito!

O tempo passou e os pais da jovem já estavam preparando uma recepção daquelas quando, às vésperas da sua viagem de volta e faminta, Proserpina avistou um romã dando sopa em cima da mesa da sala. Estava sozinha. Olhou pro lado, pro outro, ninguém estava vindo e então comeu as sementes do fruto aos 45 do segundo tempo. Quando dizem que as paredes têm ouvidos – neste caso, olhos – parece que é pra ela. Plutão acabou descobrindo e ficou furioso (talvez contente. Sabe como é?), pois o trato fora quebrado e decidiu prendê-la em seus domínios por toda a eternidade. Tenho minhas dúvidas se a moça queria voltar realmente pra casa dos pais porque sementes de romã não matam a fome de ninguém. Você, caro leitor, pode imaginar como a dona Deméter deve ter ficado, né? Feliz é que não foi. Amaldiçoou a Terra novamente que voltou a escassez, fome, escuridão e lamentação.

Júpiter, marido da dona Deméter e pai da Proserpina, que até então só observava pacientemente resolveu entrar em ação. Fome e lamentação por toda a eternidade era tempo demais. Arrumou suas coisas e partiu em direção à casa do Plutão no submundo tentar uma conversa. Chegando lá foi recebido com não tanto prazer assimmas sem estranheza, como se já soubessem que iria. Papo vai, papo vem, acabam chegando num novo acordo: Proserpina passaria metade do ano com Plutão e metade com Deméter. Apertaram as mãos como cavalheiros e Júpiter retorna para dar a notícia a sua esposa, que não ficou muito contente obviamente mas, cá pra nós, melhor que nada. Assim originaram-se as estações do ano: quando Proserpina está com Plutão é outono e inverno; quando está na Terra com Deméter é primavera e verão.

Você deve estar se perguntando: mas e o segredo? Amigo, se o Plutão que é deus do submundo, cheio dos poderes e influencias, mexeu com a sogra e deu no que deu, eu é que não vou ficar espalhando os segredos da minha por aí.

Rodrigo Goulart

Psicólogo CRP 19/2689,

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data de publicação: 09/06/2015