Você tem medo de quê?

26/08/2014

 

Você tem medo de quê?

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Quantas vezes na vida nós tivemos medo e quantas outras vezes iremos experimentar de novo essa “terrível” sensação? O coração dispara, a respiração aumenta, aparecem tremores no corpo, tonturas, palidez, sudorese exagerada, um frio na espinha, a mente trabalha diferente, fica parada em um estranho estado de alerta. A adrenalina! O medo é a mais visceral e talvez a mais antiga emoção do homem.

Temor, terror, susto, apreensão, apavoramento, fobia, assombro... o vocabulário é imenso. Temos medo de algo novo, desconhecido, potencialmente intimidador. Temos medo de muitas coisas. Mas medo de que? Do perigo!

Vou tentar expor alguma coisa que pensei a respeito do que gostaria de falar sobre o perigo. E sobre o medo. Uma coisa perigosa pode destruir alguém, mas por outro lado pode impedir essa destruição. O medo foi necessário para que a espécie humana se preservasse e sem ele, provavelmente, estaríamos extintos há muito tempo. É um sentimento vital que nos protege do perigo. Por medo fugimos do perigo. Também pelo medo podemos fazer justamente o oposto, movidos pela coragem e curiosidade de enfrentá-lo.

Frente a um perigo real, o medo desse algo real evita que a pessoa sofra alguns males e a coloca a salvo. Mas e o outro perigo? Aquele que vem de dentro, o que temos escondido na alma, o que não queremos ver nem tão pouco enfrentar? O medo desse outro perigo que defino aqui como conflitos internos, impede que se enfrente situações muitas vezes inaceitáveis que, se enfrentadas, poderiam levar a êxitos ampliando o repertório experimental e ampliando o conhecimento a nosso próprio respeito.

Fugir de medo de um perigo do mundo físico é uma coisa. Mas fugir de si próprio por medo, mesmo que esse medo represente uma defesa equivocada, não é possível. Esconder-se onde? Fugir para onde? Esse medo que agora mudou num estreitamento, num apertamento, se transformou em angústia, um dos sintomas mais presentes nos problemas da mente, tanto em seu aspecto físico – sufocamento, palpitações, tonturas, sudorese – como no seu aspecto psíquico – ansiedade, apreensão, preocupação. É o padecimento da alma que agora tem que ser enfrentado.

Mas medo de quê?

Na clínica psicanalítica o que aparece muito são pessoas que entram em um processo de análise sem saber direito o que as leva até lá. Apresentam uma causa, mas sem o saber, a causa é outra. Não raro surge a questão do medo, mas ele vem disfarçado. O que emerge é o medo do amor.

O medo da falta do amor do outro. Medo e não sentir amor. Medo do desamor. Da perda do amor. Medo de não ser amado pelo outro. E esse grande Outro pode ser o Outro primordial – a mãe ou o pai. Ou a sociedade.

Tem um outro tipo de medo, talvez mais forte, que é o medo de descobrirem as nossas faltas, as nossas falhas, os nossos erros e enganos, e aquele bemescondido nosso lado obscuro, nosso lado “Darth Vader”.

E, talvez, o pior é o que podemos fazer em nome do amor, contra nós mesmos, em tentativas de satisfazer o desejo do outro em detrimento do nosso próprio.

Aldo Christiano

Médico,

Psicanalista em Formação pelo NPA/SPRPE

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Data de publicação: 26/08/2014