Sobre o erotismo dos animais humanos na contemporaneidade

01/04/2014

 

 

Sobre o erotismo dos animais humanos na contemporaneidade

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Poderíamos nos situar no tempo em que podemos ter uma consciência de nós mesmos e nos perguntar o que quer dizer a palavra \"erotismo\". Nenhum questionamento merece a impulsividade como meio de um alcance, é necessário percorrer a interioridade, é necessário sentir, se perceber, escutar de dentro, falar por dentro, escutar de fora, falar para fora, trazer para o real, reconhecer a fantasia, gozar no mundo, gozar com o mundo, se entregar a si mesmo, se entregar ao outro com o amor que chega, e se sentir cada vez mais vivo, se possível for.

O que reprime se move com a sede de escapar, e isso gera uma história emocional que pode ser narrada no percurso da nossa capacidade de viver e existir. Sem ir numa direção aparentemente sem norte e quase vítima do devaneio literário, podemos lembrar do filósofo Georges Bataille que se mostrou um excelente pensador do erotismo em sua profundidade. Nos diz Batailleque \"o erotismo é um dos aspectos da vida interior do homem\" e justamente por isso que o erotismo no homem marca a distinção para com aquela atividade sexual puramente animal, uma vez que segundo o filósofo o erotismo permite que o ser seja colocado em questão, enquanto que na atividade sexual animal não há tal possibilidade. Trazendo o conceito psicanalítico de que a sexualidade não se restringe ao ato sexual genital, pode-se fazer uma alusão do erotismo para com a sexualidade entendida como uma experiência que se inicia desde os primeiros dias de vida. O erotismo e a sexualidade enquanto compreensão psicanalítica pode sofrer apenas uma distinção de nomenclatura, pelo que parece ambos possuem o mesmo sentido, uma vez que a sexualidade para a Psicanálise nos dirige inevitavelmente ao interior, e não é barata a nossa admiração pela \"Psicologia das profundezas\".

Mediante a essa problemática, o que poderíamos pensar a respeito do erotismo na contemporaneidade? Vivemos num mundo onde o erótico enquanto experiência interna acontece? O erótico passou a ganhar uma dimensão equivocada, pelo que borbulha por aí, os sonhos do mais íntimo se tornou uma fúria pragmática. A sensualidade deixou de ser qualidade de mistério por exemplo, e se tornou ápice de uma consequência de um bom desempenho, de uma performance destacada. Podemos atribuir a esses acontecimentos, uma qualidade erótica? Em termos psicanalíticos, poderíamos pensar a respeito da atividade sexual puramente instintiva como um movimento de puro ato de descarga de tensão. Eis que nos chega a pergunta: Por onde andaram os traços marcantes de afeto? O vazio chega como uma falsa resposta de esclarecimento.

As sensações do gozo não são alcançadas pela prática sexual a nível genital puramente. É necessário existir o encontro. O encontro marca a possibilidade do nascimento do erotismo. Marca a coragem da interioridade de se despertar. É importante refletir sobre o encontro. Podemos flagrar atos de aproximação sendo confundidos com atos de encontros reais. Enquanto prática sexual em termos genitais sem trazer nisso a condição afetiva, poderíamos pensar numa aproximação mal-sucedida para aquela condição do encontro e do erotismo. Nesse sentido poderíamos falar de descarga de tensão e suas nuances primitivas como meios recorrentes dos seres que habitam essa nossa contemporaneidade. Mas com tantos efeitos evidentes como podemos pensar o erotismo hoje em dia? Devemos nos encontrar para saber, e ao sentirmos o preço do encontro, que possamos ser mais livres, mais eróticos, e quem sabe, mais felizes.

João Paulo Corumba

Graduando em Psicologia

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data de publicação: 01/04/2014