Porque acredito na Psicanálise

03/06/2014

 

Porque acredito na Psicanálise.

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Porque acredito na Psicanalise?

Porque Viver é muito mais que simplesmente sobreviver, existir, ou durar.

Nascemos desamparados, dependentes de cuidadores, chamados de mãe e pai, para nos alimentar com a experiência de viver em dois e em três, no mundo e para nos ensinar a ser amados e a amar. Esta condição atribui o especial lugar ao materno e ao paterno na experiência infantil, um verdadeiro ninho criador, porque tem a potência de organizar recursos e também as dificuldades na vida adulta.

O poeta inspirado descreve de modo brilhante a condição humana típica:

"Preciso ser um outro

para ser eu mesmo ....

Existo onde me desconheço

aguardando pelo meu passado

ansiando a esperança do futuro\" Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas\"

A particularidade de um nome, um sobrenome são a origem, como uma marca de nascença peculiar e intransferível, como a singularidade daquela experiênciainfantil, que evolui de um lugar de desamparo e dependência extrema para a autonomia da vida adulta. O humano é múltiplo e particular, um singular ser.

De um lugar de filho para um lugar adulto, de homem ou de mulher, identidade inserida numa cadeia de gerações, que demarca uma origem, que irradia muitas perspectivas de satisfação, como um indivíduo, como profissional, e na parentalidade.

O herdado vem com o biológico, porém a humana experiência com o amor depende de complexa construção. Esta fundamental capacidade de amar a si e além de si mesmo organiza recursos para enfrentar o aleatório da vida, a sorte e o azar. Como uma marca de nascença que contém o herdado e o adquirido, o biológico e o construído.

A finitude, saber que se morre, implica em verdadeiro desafio para a alegria de viver a vida com felicidade. Perder fere muito, porém a habilidade para cicatrizar depende e se apoia no amor.

Algumas raízes da angústia humana estão circunscritas aos acontecimentos súbitos e impensáveis, razão do sentimento de miséria e de impotência, verdadeiro desamparo, que pode ser resolvido quando alcançamos contar, narrar, dar uma versão para essa experiência inominável, que comumente chamamos de sofrimento. Podem ter origem,no descuido, na violência, na perda de amor, e na experiência com o transitório da vida ou com a morte. Aquelas marcas de nascença facilitam a construção de caminhos para cicatrizar as dores do viver.

Considero que este cuidado, no trabalho de cicatrizar dores, pressupõe companhia, ser sozinho diante do mundo não impede estar acompanhado. Este é o meu elogio aos corajosos humanos, no caminho de viver com alegrias e felicidades que elegem estar acompanhados quando triste, com dores e desamparados. E também meu elogio a psicanálise que se propõe acompanhar e alcançar dores humanas.

Silvia Brandão Skowronsky

Psicanalista

Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre

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data de publicação: 03/06/2014