Os três tempos
09/12/2014
Os três tempos
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Há três tempos de vida: passado, presente e futuro, mas, na verdade, tudo é presente, mesmo que dele se queira ausente.
O passado é a lembrança e também o esquecimento.
De cada passado é composta uma bagagem, específica a cada indivíduo, que a traz, mesmo que não a queira, mesmo que a esconda, que a camufle ou dela não se recorde.
No presente vivemos uma aparência, consciente ou não, que nos é cômoda, confortável ou, simplesmente, suportável. Mas a bagagem passada continua presente e, mesmo que não percebida, ela continua sempre pulsante, viva, e quer ser consciente ou, pelo menos, aparente.
No seu intento de se mostrar, a bagagem aparece nos sonhos, nas falas incertas, nos enganos, nos gracejos e anedotas, nos detalhes mais insólitos, nos sofrimentos, nos medos e nas angústias, no temido querer e no querer temido. A bagagem tem formas de aparecer, e aparece, mesmo que não se queira, mesmo no “sem querer”, mesmo que se queira não querer.
E o futuro?
O futuro em si, na verdade, não é, e, apesar de tão presente, por ser constantemente lembrado, pensado, planejado, desejado e temido, não passa de uma tendência que vem de passado em passado e se inicia a cada presente, mas que não chega.
O futuro não é certo, mas também não é incerto. O futuro não é conhecido, mas também não é desconhecido. O futuro é um tempo que se quer presente, mesmo que não chegue. O futuro é um tempo que chega, mesmo que não se queira que chegue.
Alguns dizem, simplesmente, que o futuro é a morte. Outros, esperançosamente, que o futuro é a vida eterna. Outros, com tristeza, que no futuro, como prêmio pela longevidade, receberão a velhice com suas dores físicas e mágoas. Outros, com integridade, dirão que vivenciaram uma vida.
E cada indivíduo passa pelos três tempos, em um específico instante presente, e constrói a própria história como o ator principal no elenco da vida, em suas múltiplas inter-relações de amor e ódio, de vida e morte, de prazer e desprazer, mesmo que não o saiba, mesmo que saiba e não o queira, mesmo que o queira e não possa controlar, pois a bagagem do passado pulsa e nesse pulsar inconsciente está também o eu.
Carlos Kildare Santos Magalhães
Servidor público federal e estudante de psicologia da Pio Décimo.
Participante do Curso de Introdução ao Pensamento Psicanalítico na NPA
data de publicação: 09/12/2014