O que é real para você?

02/09/2014

 

O que é real para você?

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“A realidade é apenas uma ilusão,

Ainda que muito persistente...” Albert Einstein

Tenho a intenção de abordar, neste curto texto, um assunto que precisaria de muitas mais páginas para ser discutido. Se pararmos um pouco para pensar, chegaremos a um possível “palpite”: o nosso mundo interno está estritamente ligado ao mundo externo, o entrelaçamento entre nossa realidade interna e a nossa realidade externa. Realidade esta que é comum, muitas vezes, entre duas ou mais pessoas e que ao mesmo tempo não é.

Confuso, não? Realmente, é um assunto um pouco complicado, mas tentarei dar-lhe algum sentido. Além desta realidade,este mundo externo, em que presenciamosas relações sociais, possuímos um mundo interno, uma realidade psíquica que irá influenciar diretamente na forma de como iremos ver o mundo. Um mundo interno fabricado pela nossa fantasia, com o objetivo de satisfazer desejos que na maioria das vezes são adiados. Aliás, somos os únicos animais capazes de postergar nossos desejos. Não tenho a intenção de julgar o que é realidade ou fantasia, verdade ou mentira, normal ou anormal, certo ou errado. Pelo contrário, se partirmos da idéia de que a realidade, o mundo externo, existe a partir do que vemos, cada pessoa possui a sua, apesar do senso comum nos fazer acreditar que vivemos em algo de forma totalitária. Ou seja, eu vejo a mesma coisa que você vê.

Podemos até viver, mas cada um vivencia determinado acontecimento, de forma singular, tudo devido ao seu mundo interno, a sua realidade psíquica, a sua própria percepção. Fernando Pessoa, em seu Livro do Desassossego, nos esclarece isso melhor neste pequeno trecho, “Sou um homem para quem o mundo exterior é uma realidade interior. Sinto isto não metafisicamente, mas com os sentidos usuais com que colhemos a realidade.”

Esses dois mundos precisariam viver em harmonia para que se pudesse ter um desenvolvimento “normal”. Mas o que é normal? Como falei, não pretendo rotular, nem dizer o que é melhor ou pior. Na verdade, é preciso acreditar que a mente é dinâmica e em alguns momentos da sua vida, para sobreviver, ela poderá atingir estados regredidos que irão confrontar com a realidade comum que se mostra.

Muitas vezes o que é real para uma pessoa é irreal para outra, e não adianta julgá-las, são percepções diferentes. Alucinações? Delírios? Aquela pessoa é uma louca! Aí é que está: estamos sempre suscetíveis à nossa loucura, na verdade, somos todos loucos e quando reprimimos tais momentos de uma determinada pessoa, estamos negando a nossa loucura. Quem nunca se apaixonou perdidamente a ponto daquilo se tornar uma obsessão e depois arrependeu-se de forma profunda? Quem nunca acreditou em determinado conceito, defendeu-o cegamente e depois mudou para uma idéia totalmente contrária?

Geralmente, não queremos mudar nossa forma de ser e ver o mundo por não ainda termos recursos mentais suficientes para suportar nossa realidade que está se modificando. Nosso mundo interno é um sujeito muito forte que precisamos contrabalancear com o mundo externo. Tentar dar um novo rumo a nossas vontades, para conciliar com o que está se mostrando do lado de fora, demanda muito esforço. Afinal, mudar, aceitar o novo, uma realidade modificada, traz um pouco de dor por colocar em conflito o mundo interno com o externo.

Acredito que não cabe a ninguém julgar o que o outro vê ou deixa de ver. Aliás, só vemos o que queremos; o que não queremos, negamos a existência, pois, ainda não é o momento de podermos pensar a respeito.Determinadas idéias que irão trazer uma nova forma de vermos o mundo, de vermos a nossa vida. Nós vemos e pensamos o que achamos que é possível ser mostrado e pensado por nós. Enquanto pudermos expandir a nossa mente e modificarmos sempre nossa realidade para melhor, nós estaremos salvos e vivos. E isso já basta, o essencial é sempre duvidarmos das nossas verdades absolutas.

Um trecho do poema “A Espantosa Realidade das Coisas” de Fernando Pessoa me ajudará a concluir:

“A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,

E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.” (...)

Erik Dória de Souza

Psicólogo CRP19/2414

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Data de publicação: 02/09/2014