O doce sabor do Carnaval

28/01/2014

 

 

O doce sabor do Carnaval

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Aracaju vivencia, entre os dias 24 e 26 de janeiro de 2014, seu pré-carnaval: o Precaju. As ruas do bairro 13 de julho se fecham para o trânsito de carros e se abrem para os trios elétricos e para a multidão que os segue. Falar de Precaju, de carnaval, é falar de fantasias e desejos. A rotina, a realidade quotidiana e as inúmeras responsabilidades assumidas são colocadas em segundo plano, para se vivenciar momentos de prazer e diversão. Sábia a cultura que inventou o carnaval. Como uma ilha perdida em meio ao oceano da realidade, o carnaval promove um descanso dos medos e das inseguranças inerentes à vida. No carnaval, as pessoas são super-heróis, são exímias conquistadoras e autoconfiantes (mesmo que momentaneamente). Somos um só grupo, o movimento é da massa, todos buscando uma mesma coisa: divertir-se.

Há uma permissividade carnavalesca que se traduz em várias brincadeiras, como os homens que se vestem de mulheres e desfilam em blocos. A máscara que a fantasia feminina lhes proporciona os faz se sentirem mais livres e, através da brincadeira, conseguem se aproximar mais facilmente das mulheres, pois a tão temida rejeição ou o “fora” é mais bem suportado. De alguma forma, o carnaval massageia o ego, em uns poucos dias, mas o suficiente para se poder respirar e acordar na segunda-feira (ou ao final da festa) cansado(a), mas feliz. De preferência, sem ressaca e sem remorso. É um sopro de fantasia e, por que não dizer, de loucura talvez, necessária para uma grande parte da população, que encontra nesse período um momento de descanso mental, de rebaixamento das exigências e regras sociais.

É verdade que muitas vezes acaba havendo brigas e confusões. O espaço geográfico é real, limitado, e a aglomeração, na maioria das vezes, intensa. Nem tudo é fantasia. E, para aqueles que acabam por extrapolar o respeito ao próximo, a polícia se faz presente de forma intimidadora. Pessoas que não se permitem sonhar podem aparecer para se aproveitar da situação com atitudes egoístas e destrutivas, mas esses são casos à parte e mereceriam um outro texto em outro momento, além de uma conversa com o delegado plantonista do evento.

Para muitos, o carnaval é momento de agir sem pensar (o que, em Psicanálise, é chamado de atuação). Uma atuação em massa, sim, é verdade, mas a atuação é uma das características da vida e sempre se recorre a ela quando o pensar se torna inacessível em determinado ponto. A vida não é feita somente de sublimações, mas de vivências, sentimentos, ilusões e fantasias. A fantasia, quando bem direcionada, é fonte de favorecimento da vida e torna leve a realidade.

Lembro-me de um texto que falava sobre Mandela e sua capacidade de suportar a prisão através de uma mente livre, que se permitia viajar para fora das grades que prendiam o seu corpo. Nem todos, o tempo todo, têm condições e recursos mentais para se permitir essa conduta. Mas, como temos um pouco de tudo (de médico, de louco, de frouxo, de valente...), muitos de nós libertamos essa parte louca nesses momentos consentidos socialmente. Feliz aquele que se permite ser louco em sua sanidade!

Para aqueles que não suportam o carnaval, espero que possam encontrar outros meios de lidar com sua loucura, de forma que ela não se faça presente de forma impositiva e destrutiva. Para os que conseguem brincar o carnaval de uma forma leve e não-destrutiva, que venha o próximo. Que a banda passe, que a vida siga, que as pessoas rebolem e lavem a alma com suor e chuva, permitindo que as fantasias, o açúcar do tempo, adocem a vida por alguns instantes.

Petruska Passos Menezes

Psicóloga CRP19/636, Psicanalista em Formação pelo NPA/SPRPE

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data de publicação: 28/01/2014 .