Freud explica...

06/05/2014

 

Freud explica....

Quer imprimir ou arquivar? Clique aqui

O noticiário de todo o mundo, nos últimos dias trouxe à tona questões que estão nos fazendo pensar sobre a intolerância humana em relação ao diferente. E como pessoas podem alimentar em si sentimentos de superioridade em relação ao outro? Foi o caso do jogador brasileiro Daniel Alves, que recebeu literalmente uma banana enquanto jogava na partida contra o Villarreal e o Barcelona, na Espanha. Atos de racismo no esporte não é algo novo, e não são fatos isolados. Eles vem acontecendo ao longo da história e são considerados um reflexo vivo do desenvolvimento de uma sociedade.

Existe um movimento contrário à migração que acontece em todo mundo. Na Europa esse movimento se torna ainda maior, por existirem em vários países que tentam a qualquer custo manter sua hegemonia sobre os outros, o que impede que a ideia de “Unidade Europeia” se concretize plenamente de fato. Na Grécia e na França por exemplo, os partidos de extrema direita estão ganhando espaço e força, são contra os imigrantes, por julgarem serem eles os responsáveis pelo colapso na economia de seus países.

No Brasil não é diferente, pessoas oriundas das regiões norte e nordeste do país sofrem a todo momento, através das redes sociais e de todas as formas possíveis e impossíveis, ataques de xenofobismo e racismo. Poderíamos dizer que é um movimento que tenta, “defender” uma localidade, um povo, uma cultura, uma região e até um país do multiculturalismo, que através da fantasia onipotente do controle, deseja eliminar as “supostas” ameaças.

Raças superiores, limpeza das raças, segregação entre outros aspectos já foram amplamente discutidos em todo mundo através de conferências e divulgados por todo tipo de mídia, mas temos a impressão de que nada muda. Por quê? O que faz com que essas pessoas enxerguem o mundo assim? Sintam-se superiores aos demais e precisam de qualquer forma se defender do suposto “inimigo”?

Será que existe um explicação para isso? Será que poderíamos pensar qual real sentimento mobiliza essas pessoas a deflagrarem tanto ódio sobre as outras pessoas, seus semelhantes em espécie? Bem, fico pensando... e, busco um olhar através da psicanálise...

É comum, presenciarmos uma grande mobilização social em relação a violência, com reações de ódio e indignação. Havendo uma percepção da violência como se fosse algo do externo, negando a violência e o sentimento de ódio que existe em cada um de nós. É muito mais fácil nos sentirmos vítimas da violência, acreditando que somos totalmente isentos de qualquer tipo de responsabilidade e de participação. Poderíamos perguntar: Por que as notícias onde a violência está em evidência fazem tanto “sucesso”? Acredito, que estamos dando um lugar legítimo para ela. A ilusão de que existe um inimigo “lá fora” que precisa ser destruído, combatido ou eliminado, possa justificar as atitudes adotadas por muitos para se livrar de todo o mal. É comum atribuirmos a violência a uma natureza não humana. (Foram as drogas, foram as armas, foi o álcool, são as diferenças raciais, o xenofobismo, o racismo, e por ai vai... como se o homem fosse totalmente bom, só feito de coisas e intenções boas e puras e o outro, “inanimado”, é que é totalmente mal.) É o narcisismo, o princípio do prazer e o princípio de realidade que são essencialmente importantes para a sobrevivência da raça humana. Entretanto o que nos mobiliza a pensar, é o fato de quais são os parâmetros que leva uma pessoa ou grupo de pessoas a considerarem-se “puras”, “boas” e “colocarem” o mau sempre em outro lugar e nunca de dentro de si mesmas?

Será que Freud explica?

Para explicar o fato de que homens deflagram tanto ódio contra outros da mesma espécie, considerando-se totalmente puro, podemos nos remeter aos estudos de Freud sobre como o homem lida com sua subjetividade, desde a sua constituição psíquica até a sua forma de relacionar-se com o mundo externo.

Freud em seus estudos sobre o narcisismo, sobre o princípio do prazer e da realidade pode muito bem explicar o que ocorre com essas pessoas, que não toleram as diferenças, e por não as tolerarem atacam, deflagrando todo o seu ódio sobre elas e fantasiando que o ódio está no outro e que ele próprio é só constituído de objetos bons, de amor e beleza.

Freud, considerado o “pai da psicanálise”, que nasceu em 6 de maio de 1856, dedicou sua vida para estudar o funcionamento da mente humana e em consequência a isso os fenômenos sociais e culturais. É inegável a sua contribuição para a humanidade, ele não estava interessado apenas em estudar uma mente doentia, como se supõe com frequência, mas sim, uma teoria geral da mente. Escreveu e reescreveu incansavelmente até o fim de sua vida. Sofreu todo tipo de crítica que poderia receber, constituiu amigos e inimigos ao longo do tempo. Sua obra permanece viva até hoje. Todo o seu compromisso era com a verdade. Daí vem a sua luta incansável pela investigação e observação.

Joseane dos Santos

[email protected]

Pedagoga, Graduanda em Psicologia - UNIT e

Postulante a Formação Psicanalítica –SPRPE/NPA-Aracaju/SE

data de publicação: 06/05/2014