Justin Bieber, pichação e construção da identidade. A visão social e o olhar da psicanálise.

11/11/2013

Pichação e Grafite

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Justin Bieber foi alvo de mais uma polêmica esta semana. Segundo o site de notícias globo.com, no dia 6 de novembro, ele foi autuado por pichar o muro do antigo Hotel Nacional, em São Conrado, na Zona Sul do Rio. O site F5, da Folha de S. Paulo, informou que, após toda a confusão e o tumulto, o cantor postou no Instagram o seguinte: \"Eu sou louco, sim é o que o jogo fez comigo. Eu talvez precise substituir essas caretas e talvez precise me afastar das pessoas que não me deixam ser eu mesmo, mas eu sempre vou lembrar quem eu sou.” No mesmo post, ele ainda afirma que escreveu num dos desenhos: \"você realmente me conhece?\".

Se pudermos especular um pouco sobre o ocorrido, podemos pensar sobre que significados têm a pichação e o grafite, e o que isso representa para quem o faz. Em entrevista no programa Encontro com Fátima Bernardes, na Globo, também no dia 6 de novembro, um grafiteiro falou que existem diferenças entre pichar e grafitar. Na pichação, a pessoa está buscando mostrar quem ela é, deixar sua marca e romper barreiras, mas de uma forma que não é aceita socialmente, já que a pichação é crime e vista como vandalização do patrimônio alheio. Antes de ser exibida para os outros, a pichação é feita para quem a faz. Já o grafite é feito de uma forma aceita socialmente e reconhecido como arte.

Nos dois depoimentos, tanto o de Bieber como o do grafiteiro, percebemos que existe uma busca de identidade, assim como em tudo que produzimos ou criamos. A pichação e o grafite também têm o mesmo propósito, entretanto a primeira atinge seu objetivo através da destruição de algo que não pertence ao pichador, enquanto que o segundo atinge seu objetivo com aprovação e acolhimento da sociedade.

Em nosso processo de autodescoberta e construção da identidade, tudo que criamos passa a nos representar, parcial ou totalmente, sendo construções daquilo que somos e, consequentemente, nos representando em determinado momento da nossa vida. Olhando para o que produzo, vendo-o como meu, posso tentar expressar o que sinto, pensar sobre o que sou e sobre o que sei que desejo e o que posso desejar mas não sei, tomando como princípio que o desejo vem primariamente do inconsciente. Algumas pessoas fazem isso através de ideias (pensamentos ou sonhos), outras esculpindo, pintando, construindo, dançando. Esse processo é contínuo, pois sempre existirá algo a ser descoberto. O tempo, uma quarta dimensão, nos coloca em um funcionamento dinâmico e, por isso, em contínuas mudanças.

Hanna Segal, em seu livro Sonho, Fantasia e Arte (Imago, 1993), fala, entre outras coisas, sobre a importância do sonhar e do fantasiar, quando usados a favor da vida, como recursos mentais que transformam a vida em algo mais leve e possível de ser vivida. A arte é o fruto dessa possibilidade de re-ver o mundo.

Se for possível transformar pichadores, que estão em busca de um autoconhecimento, mas pela via da destrutividade, em grafiteiros, também em processo de autodescoberta, mas a favor da vida, estaremos promovendo uma mudança na possibilidade de nos redescobrir através dessas projeções/expressões feitas por meio do grafite. O grafiteiro do programa de Fátima conseguiu fazer essa transformação e se tornou um artista reconhecido. Já a celebridade internacional, parece, ainda não teve essa possibilidade.

Petruska Passos Menezes

Psicóloga CRP19/636,

Psicanalista em Formação pelo NPA/SPRPE

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data de publicação: 12/11/2013


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